sábado, 17 de noviembre de 2007

Saudade em português


Quando ouvem a palavra saudade são muitos os que pensam: - Ah sim, a saudade, a palavra que não se pode traduzir e que identifica os portugueses. Mas a saudade não é uma palavra, não é o bilhete de identidade dos portugueses; a saudade não se pode perceber nem definir, mas apenas viver, experienciar. A saudade expressa-se em sentimentos, música, poemas, cantos mas, certamente, não é com palavras que a podemos traduzir. Antes de ser pensada a suadade foi cantada considera Eduardo Lourenço no seu Labirinto da Saudade.São tantos os que já procuraram definir a saudade como tantas são as hipóteses que colocaram para descrevê-la, mas a melhor maneira de compreendê-la é ir a Portugal, misturar-se com os portugueses e mergulhar na cultura lusitana. Tal como o filho que apresenta, simultaneamente, características da mãe e do pai, assim a saudade é, igualmente, uma mistura de muitos sentimentos: melancolia, nostalgia, monotonia, tédio, esperança, desespero, tristeza, conforto, etc. Alegrar-se de sofrer, sofrer por se sentir alegre…O conceito de saudade tem o seu locus nascendi algures em Marrocos, onde Dom Sebastião morreu mas ninguém pôde testemunhar a sua morte. Assim começou o movimento, quase seita, do sebastianismo, na qual os discípulos crêem que Dom Sebastião não morreu na batalha e que voltará num dia de nevoeiro, para que reine de novo a glória e a força do Portugal das Descobertas. Por isso, a saudade portuguesa exprime, entre outras coisas, o passado que foi e o futuro que nunca será. Um grande paradoxo que vivem os portugueses face às esperanças que têm no futuro de Portugal. Sonham com um destino maravilhoso, idêntico à época das Descobertas e, ao mesmo tempo, não fazem nada e não esperam nada porque não crêem que Portugal possa brilhar de novo. Em vez de baixar as expectativas que têm para o seu país, os portugueses preferem viver no passado e deixar passar o presente. Trata-se de um passado futuro! Escutemos Álvaro de Campos na sua Tabacaria: Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.A saudade que sentem os portugueses pode eventualmente ser explicada geograficamente. Com efeito, Portugal é um país pequeno cercado pelo mar, quase como uma ilha, que predispõe os seus habitantes a deixarem o continente. Não é por isso, supreendente a vontade que os portugueses têm em se virarem para o mundo, lançando-se ao mar. Os portugueses não gostam de limites e, por isso, evitam-nos. Os portugueses gostam de desafios; ficam tristes quando falham, mas ficariam ainda mais tristes se não tivessem tentado. As descobertas portugueses situam-se, algures, no passado porque as colónias já o foram. De todo o lado onde os portugueses chegaram, deixam e trazem lembranças da sua passagem. Da arquitectura à língua, de Marrocos à China, passando pela Índia, Japão e Timor.Por exemplo, em Morrocos, na cidade de Essaouira (antiga Mogador), uma pequena cidade portuária, que, pela sua situação geográfica foi acossada por muitos visitantes indesejados. Mas a influência mais marcante que nela se inscreve é a que os portuguses deixaram. Muitos edifícios da cidade apresentam uma arquitectura bem portuguesa, sobretudo a fortaleza.E os portugueses mobilizaram o recurso mais poderoso para as descobertas : o mar! Foi com o mar que chegaram até mundos desconhecidos e também foi o mar que definiu o reino do Portugal das Descobertas. Por isso, Portugal foi cobiçado mais de uma vez pelos seus vizinhos e saudosos inimigos de estimação. O mar também foi, e ainda é, indispensável à alimentação e prosperidade dos portugueses. No entanto, os portugueses não conseguem pensar o mar sem saudade, porque o mar venturoso também matou muitos deles: exploradores, navegadores, pescadores, homens, mulheres, crianças, esposos, esposas, filhos, filhas, mães, pais, avôs, avós, irmãos, irmãs, tios, tias, primos, primas, amigos, amigas, etc. O mar conferiu -e confere ainda - poder aos portugueses mas também lhes mostra, às vezes, que é maior do que eles. Esta dura lição de humildade, esta impôtencia, esta imprevisibilidade e este paradoxo do mar são componentes do grande sentimento da saudade.

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